Julia

Julia
amor da vida da mamãe!

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Meu Relato de Parto



Um relato resumido de uma mãe que buscou informação, que se preparou pra ter um parto natural domiciliar: PD... e que foi assistida por uma equipe muito especial e que descobriu no final da gestação que a sua bebê estava pélvica.

Mais que um relato, é um exemplo de que só informação não basta pra conseguir um PN na nossa cultura e tudo que influência negativamente o empoderamento e o emocional de uma mulher na gestação.

A notícia da Julia pélvica não me abalou. Fez minha busca por informação aumentar e me fez descobrir que esse fato não é indicação absoluta de cesária. Mudei de médico várias vezes e tentei de maneiras naturais fazer minha pequena virar. 

Eu me achava muito preparada para encarar um parto domiciliar pélvico e tudo que viesse pela frente. Hoje tenho a clareza de que não estava... entendo agora que as buscas e mudanças internas da mulher devem ocorrer antes do parto. Devemos encarar os medos e inseguranças de frente se preparar bem antes, porque durante o TP a mãe só pode se entregar ao parto e a vinda de seu filho ao mundo... todas as outras questões racionais e do mundo tem que ficar nas mãos da família e da equipe escolhida.

Quero compartilhar com vocês mães o que passei no meu parto, e se meu relato ajudar uma mãe que seja a conseguir assegurar a seu bebê, um nascimento mais digno e humanizado, em que os direitos básicos de mãe e filho são respeitados acima de protocolos e procedimentos médicos, já terá pra mim algum sentido válido o que passamos, minha filhinha e eu.

Exponho no vídeo e no texto a minha visão,  impressões e sentimentos que levo comigo desde o início do TP. 
Compartilho o vídeo a intimidade da minha família e sei que é por uma importante causa... 

A minha cesárea foi terrivelmente agressiva e marcante, além do pacote completo de intervenções na Julia. 
Aviso que são imagens fortes e chocantes. Grávidas em vias de parir, não assistam!
É também um passo a mais no meu processo de superar e me perdoar pelo que minha filha passou no hospital.





É duro mas acho que tenho algo a tirar de lição disso tudo. Eu tento compreender porque ela estava pélvica. E fiz todo o possível pra ajuda-la a virar... Fiz as consultas e versão externa com a Dra. Mary, fiz uma tentativa de versão externa com a Dra. Andrea Campos. Fiz natação, yoga, meditação, mocha e acunpuntura. 
Parei um mês antes de trabalhar, me dediquei totalmente ao meu preparo, li Laura Gutman, tentei lidar com meus medos, angustias, li mais livros, orei... nossa, fui a muitos encontros no Gama, muitos encontros da Casa Moara e troca pelas listas de discussão.

E quando o TP começou e já senti muita dor logo de início com 3cm de dilatação... agradeci a Deus e estava me achando até um pouco doidinha por estar tão feliz em sentir dor, mas se essa dor era o sinal da vinda da minha filha ao mundo, pra mim era mais que bem vinda! 
Ainda mais que a Julia tinha DPP para 29/05 e meus pródomos só começaram no dia 11/06. Então esse "atraso" que nem era um atraso, hoje tenho consciência.... era o dia certo dela dar seus sinais e vir ao mundo. Essa espera me trouxe a pressão da família, mais medo e inseguranças e deixaram os dias longos. Eu tentei não me influenciar, não atendia o telefone, falava o mínimo possível sobre o assunto mas no fundo fiquei preocupada.

Eu acho que o que deu errado no finzinho é que eu devo ter passado a minha insegurança para minha parteira... ela me examinou várias vezes e no dia 13/06 e sempre disse que tanto eu quanto a neném estávamos muito bem, mas no último exame as 1h00 da manhã, disse que apesar de estar tudo bem, deveríamos ir para o hospital  porque eu havia evoluído muito pouco na dilatação, de 3 pra 4cm em 06 horas... Ela me consolou explicando que o parto pélvico deve ser um parto rápido e liso e que era o momento de busca apoio hospitalar já que minha dores estavam fortíssimas pra uma fase latente.

Mas eu estava me sentindo bem, apesar dessas fortíssimas dores, no meu coração eu queria ficar em casa e tentar dormir, pra ver se de manhã quem sabe, a coisa engrenava... e o TP avançava... Queria ter tido forças e a visão que tenho hoje, pra insistir com ela, e pedir pra ficar, mas, eu me calei... 
Diante da decisão da minha parteira eu só consegui chorar, abraçar minha doula querida, minha irmã, minha mãe e meu marido, juntar minhas coisas e seguir para hospital.  

Me calei e não disse o que sentia porque ela me avisou antes nas últimas consultas, que ela decidiria a hora de parar e se eu não fosse, ela iria sozinha pro hospital. Então eu respeitei a sua sensibilidade e experiência. 

E chegando no hospital aconteceu tudo que não desejava pro meu parto. Me separaram do meu marido. Me levaram pra sala de cirurgia as 2h00. Fiquei em uma maca até as 6h00 da manhã gemendo de dor, na pior posição possível, sentindo frio, sede, esperando por um anestesista que estava ocupado com uma  outra mãe que não voltava da anestesia e que teve uma cesária na sala ao lado. 
E ainda tinha que ouvir as enfermeiras comentarem nos corredores: 
- Quem é que tá gemendo? 
Respondiam:
- É uma mãe em trabalho de parto... veio muito tarde pro hospital, coitada!

Depois de 3 horas de espera, a equipe voltou pra minha sala e as 6h31 da manhã o kit cesária adentrou a sala. Pedi uma das doutoras que ia fazer o parto pra ver a minha dilatação... ela disse: 
- Pra que mãesinha, nenê pélvico não nasce por aqui, mas vamos lá... vai doer um pouco hein... humm, vc deve estar com uns 6 pra 7cm... ai ela disse: 
- Nossa ainda bem que está aqui mãesinha! Vamos tirar sua baby já antes que chegue na dilatação total! Vamos acelerar as coisas! 
- Aquilo me cortou por dentro, comecei a pensar se eu estivesse em casa, com meu marido e só tivesse ligado pra parteira vir naquela hora, as 6h da manhã... talvez minha Julia tivesse nascido protegida e longe de tudo que passou! 

Como me dói imaginar que fui ansiosa, medrosa, sei lá... que errei o momento certo de agir, mesmo tendo me preparado tanto, me informado tanto...

E começou o corre, corre a minha volta. Anestesia, amarra os braços, corta a barriga e o vídeo vai mostrar o show de horror pra minha pequena nascer...

Depois que ela nasceu começou a agonia pra ter notícias, ela não chorou, saíram correndo com ela pra outra sala, mandei meu marido atrás, que voltou só depois de horas no meu sentimento daquele momento (mas foram 26 minutos), onde examinaram minha filha e disseram que estava tudo bem com ela.
Pedi pra amamentar, implorei pra amamentar, pedi o meu marido pra pedir de novo na outra sala, chorei, implorei, não adiantou, só pude dar um beijinho e fazer carinho no rosto da minha filha por 2 minutos. Depois meu marido foi ver o banho dela, já quase as 9h00 da manhã... ver dias depois no vídeo ela fazendo movimentos com a boquinha, nítidos da busca pelo peito, chorando... nossa de novo, me fez me sentir muito desolada por não ter conseguido proteger minha filha de tudo aquilo que eu já sabia que ela passaria no hospital.
Somente as 09h30 terminaram de me costurar e me levaram pro quarto. 
Foram as horas mais longas de toda a minha vida... eu só conseguia pensar em quando teria minha filha em meus braços...
Estava exausta mas não queria dormir, queria amamentar, pegar minha filha no colo, sentir seu calor, cheirinho e respiração. 
Comecei a ligar pro berçario. Não podiam liberar minha filha até o pediatra passar por lá. Me desesperava a cada minuto que passava. Liguei de 10 em 10 minutos, irritei as enfermeiras, pedi meu marido pra ir lá. Até que as 11h30 levaram minha neném.

Meu Deus, quando ela chegou foi o momento mais feliz e mais intenso da minha vida... só ali pude sentir o calor corpinho dela. 

* foto ilustrativa de um nascimento domiciliar e humanizado:

Ela estava faminta... chorou e se esforçou até pegar o peito e mamou com tanta força que doeu, doeu demais... mas aquela dor era nada perto da emoção de tê-la nos meus braços, depois de passar por tudo aquilo.... e sentir o leite descer foi outra emoção única...

Espero que depois de assistir o vídeo, você mãe acorde para a realidade da medicina, dos planos de saúde, do SUS e se informe muito e escolha uma equipe humanizada que lhe acompanhará até o final do seu parto. Para que vocês não tenham junto com parto um pacote mais que completo de intervenções na mãe, no nascimento do bebê, no bebê.

Eu tiro muitas lições de tudo que passei e tenho superado a cada dia pra se a mãe e mulher que minha família merecem. Eu tinha um plano de parto e pediatras humanizados que poderiam ter acompanhado a chegada da minha filha, mas eu não consegui tomar as decisões certas e com a devida antecedência.

Continuarei sonhando com outro bebê e um parto domiciliar e humanizado. Onde o bebê possa se examinado no seu habitat natural, do ventre para o peito de sua mãe, onde receberá o acolhimento, o conforto, o colo, o calor e calma que um nascimento digno merece. Que o cordão pare de pulsar pra ser cortado, que a luz e sons sejam os adequados pra um ser que só conhecia a calma e paz do meu líquido uterino.

É isso. Hoje 1 ano e 3 meses depois tenho coragem de expor e admitir minhas limitações e que elas possam ajudar de alguma forma esse universo que compartilhamos.

Termino com outra imagem que tomei emprestada da minha querida doula Drika, onde você mãe que busca informações sobre o melhor pra você e seu bebê. Uma imagem vale mais que mil palavras:




"Que o parir seja pra ti uma dádiva e um momento sagrado da família que nasce em torno do pequeno ser que rompe a bolsa das águas!"


De uma mãe que se emociona muito a cada novo bebê e relato que acompanha.